20.04.2015
Baviera-Brasil. 10 anos da nomeação do Papa Bento XVI em relações com o Brasil. Os estudos euro-brasileiros que se realizam presentemente na Baviera (Veja notícias anteriores) consideraram a passagem de uma década da nomeação a Papa de Joseph Cardeal Ratzinger, nascido em Marktl, cidade da Baviera Superior na circunscrição de Altötting.
Por ser o primeiro Papa alemão após séculos, essa data é intensamente relembrada na cidade, na região e na Alemanha em geral. Constata-se em comentários da imprensa e em emissões de televisão balanços do Pontificado do Papa-emérito Bento XVI que surpreendem pelo seu tom positivo, uma vez que os últimos anos de sua época foram ensombrecidos por críticas relativas a algumas de suas posições e sobretudo devido à intensificação de tendências ultra-conservadoras e mesmo reacionárias de determinados grupos.
Constata-se, ao mesmo tempo, um certo tom crítico e insinuações negativas relativamente ao atual Papa Francisco, o que surpreende devido ao entusiasmo geral que marcou o início do seu Pontificado.
Percebe-se o despontar de decepções quanto a expectativas de renovação que não se realizam, apesar da simpatia que causam os gestos demonstrativos da opção pelos pobres deste primeiro latino-americano na sede pontifical.
Como tratado em notícias anteriores e em vários textos da Revista Brasil-Europa, essas grandes expectativas de renovação já desde o início não pareciam ter fundamento, considerando ter-se no atual Papa um religioso formado na tradição jesuítica. Escolhendo o nome de Francisco, trazia a lembrança que tanto o seu jesuitismo como o franciscanismo se relacionavam de forma coerente não só na opção por desprivilegiados e na atenção a esferas marginais da sociedade, mas sim também na orientação, que foi no passado a de conquista espiritual e de propaganda religiosa.
Lembrando trabalhos da história missionária no Brasil, a Revista Brasil-Europa salientou sobretudo o papel das ordens religiosas no restauracionismo católico posto em ação com a repopulação dos conventos brasileiros após a República. (Veja) Já esse elo histórico com o movimento restaurativo e recatolizador do passado, apesar das profundas modificações trazidas pelo Concílio, não justificava desde o início do atual Pontificado expectativas realmente renovadoras sob o aspecto teológico. A atual decepção não é, assim, de admirar, uma vez que as expectativas foram sempre infundadas.
A diferenciação que passa-se agora a fazer na apreciação do Pontificado de Bento XVI tem implicações para os estudos referenciados segundo o Brasil. Se o atual Papa argentino é o primeiro Papa latinoamericano, não se pode esquecer o papel desempenhado por Bento XVI quando ainda Cardeal no desenvolvimento dos estudos euro-brasileiros.
Como teólogo de reconhecida profundidade, grande erudição, conhecimentos históricos e formação musical, Joseph Cardeal Ratzinger interagiu de forma relevante no desenvolvimento do pensamento e de iniciativas sacro-musicais da segunda metade do século XX, também naquelas particularmente relacionadas com Portugal e com o Brasil. (Veja)
Estreitos contatos com a organização pontifícia de música sacra e o Pontificio Istituto di Musica Sacra em Roma explicam o seu estudo sobre as relações entre música e liturgia para o Congresso Internacional de Música Sacra realizado em Roma, em 1985. Esse estudo foi publicado em diferentes idiomas, também em tradução em português pelo Mons. Guilherme Schubert (RJ).
Esse texto serviu como expressão e ao mesmo tempo como estudo condutor de uma preocupação voltada à fundamentação do pensamento e da prática musical nas suas relações com o culto, que procurava ser abalizada sob critérios tanto religiosos como racionais.
As relações e as possibilidades de compatibilidade entre a religião e a razão constituiram convicções repetidamente salientadas pelo erudito professor universitário e Cardeal.
Como algumas vozes agora reconhecem, contrariamente à imagem negativa derivada de certos posicionamentos e em geral interpretações insuficientes de textos ou alocuções, o Cardeal Ratzinger se distinguia no encontro pessoal pela atenciosidade, modéstia, cultivo e educação, suavidade de modos, cuidado de expressão do pensamento, pela precisão no uso da palavra e pelos seu interesse por assuntos relativos a questões culturais e filosóficas em geral, e ao Brasil em particular.
A sua preocupação por problemas de bases veio de encontro àquela pelo estudo de fundamentos culturais das expressões religiosas e festivas transmitidas da Europa às regiões extra-européias no decorrer dos Descobrimentos e da Colonização.
Como o então Prefeito de Congregação e reitor universitário manifestou por ocasião de sessão acadêmica dedicada ao assunto na Universidade Urbaniana, em 1991, esse estudo de fundamentos de processos histórico-culturais surgia como pressuposto para uma objetivação da problemática relacionada com a chegada dos europeus ao Novo Mundo.
Um tratamento científico dessas questões poderia mais do que polêmicas fornecer bases para a solução de graves problemas dela resultantes. Também no sentido de precisão do pensamento, passou-se a ver com distância o conceito de „inculturação“, termo inaceitável sob diversos aspectos, apesar de suas boas intenções.
Nos estudos agora realizados na Baviera, considerou-se a origem e formação cultural de Bento XVI, e a questão de ter sido a sua vivência e visão do Catolicismo marcado contextualmente pela esfera sul-alemã, austríaca e tirolesa. Essas considerações trouxeram à tona relações mais profundas e historicamente mais remotas com o Brasil.
Como estudado sob diferentes aspectos (Veja notícias anteriores), essa esfera cultural é estreitamente relacionada com a missão, tanto aquela da recatolização da Europa Central no espírito da Contra-Reforma, como da missão jesuítica na América Latina. Foi justamente em Altötting que missionários receberam formação e impulsos musicais que aplicaram nas missões indígenas paraguaias e que levaram ao florescimento da prática instrumental nesses povoados, com implicações para o Brasil.
O Catolicismo bávaro - e de regiões circunvizinhas - tão marcado pelo Barroco, é resultado de procedimentos de reconquista espiritual em grande parte conduzidos por religiosos de ordens, em particular jesuitas. Os séculos XVII e XVIII não foram porém apenas marcados pela preocupação contra-reformatória através de meios propagandísticos, mas sim também por jesuitas que se salientaram pela sua erudição, conhecimentos científicos e interesse por outras culturas. Renomados astrônomos, matemáticos e músicos - por exemplo na China (Veja) - foram jesuítas, o mesmo valendo para os estudos etnográficos e comparativo-culturais relacionados com a Antiguidade (Veja).
A preocupação pela superação do abismo entre a religião e a ciência apresenta assim uma longa história e tradição. A distância entre o erudito Papa emérito marcado por essa formação bávara e o atual jesuíta argentino na Sé pontifícia não parece ser assim grande, não havendo significativas mudanças, a não ser em modos, formas de expressão e profundidade de pensamento. A questão das relações entre a religião e a ciência permanece porém em aberto, necessitando ser retomada de forma competente, corajosa e aprofundada, dirigida a fundamentos, sem conotações reacionárias, mas também sem bisonhices.
19.04.2015
Novo Portal Brasil-Europa - Orgãos ministeriais, UNESCO , universidades e fundações nos estudos euro-brasileiros. O Portal da Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais foi reconfigurado visualmente, oferecendo informações sobre a fundação de forma mais breve e clara. Procurou-se nele dirigir a atenção dos visitantes às revistas nas suas edições mais recentes, uma vez que são elas que mais dados oferecem sobre os trabalhos em andamento da Academia Brasil-Europa e do I.S.M.P.S.. (Veja)
Manteve-se a coluna com os trabalhos que se realizam nos diferentes países da Europa e aqueles dedicados a cada Estado do Brasil. O texto central inclui, além de informações gerais, resumos dos principais programas de estudos conduzidos pela A.B.E..Desses textos, o visitante pode acessar então os respectivos sites com informações mais detalhadas. Estes, porém, ainda não puderam ser ainda reelaborados, encontrando-se os trabalhos em andamento.
Do texto principal sobre a Fundação, o visitante pode acessar página com dados pormenorizados sobre o histórico e os trabalhos realizados e em realização. Essa página inclui grande quantidade de imagens, de iniciadores, de membros da diretoria e da administração da atualidade, de participantes de ciclos de estudos e de alguns artistas que se apresentaram em eventos. (Veja)
A principal inovação foi a inclusão no Portal de uma coluna com órgãos e instituições relacionadas com a história e o presente do movimento iniciado no Brasil, instituido na Europa em 1974 e que tem a sua continuidade na A.B.E. e no I.S.M.P.S...
Apoios, colaborações e interações com Ministérios, com a UNESCO, com fundações, com universidades, com bibliotecas e museus, com mosteiros e centros de estudos vários são tratados em páginas individuais que podem ser acessadas a partir da página principal do Portal. Elas contém grande quantidade de fotos históricas dos arquivos inter-e transculturais da organização (Veja), constituindo um conjunto documental de grande valor para a história do pensamento e das atividades em relações Brasil-Europa das últimas décadas.
Apesar do trabalho intenso desenvolvido por membros da A.B.E. nos últimos meses, não foi possivel considerar todas as instituições relacionadas com a organização, ficando a sua inclusão reservada para uma nova fase dessa renovação de sua presença online. Isso vale sobretudo para colaborações com instituições brasileiras, encontrando-se em andamento o levantamento de documentos, de imagens e a preparação dos textos com base nos materiais de arquivo.
15.04.2015
Mittenwald/ Alta Baviera. Tradição alpina de construção de instrumentos na América Latina e sua inserção em contextos e processos culturais. Conferências de inter-e transculturalidade: 40 anos (1975-2015). A questão da introdução de instrumentos do espaço sul-alemão-austríaco e do Tirol no decorrer da história missionária do Paraguai e sul do Brasil readquiriu particular atualidade após colóquio com músicos paraguaios que procuram valorizar o ensino e a prática da harpa paraguaia nacional- e internacionalmente. (Veja notícia de 16.02.2015)
Nesses diálogos, recapitulou-se resultados de pesquisas de fontes e estudos que vem sendo conduzidos já há décadas relativamente à transmissão de práticas musicais, instrumentos e princípios construtivos instrumentais por jesuitas às missões latinoamericanas.
A atualidade dessas questões manifesta-se também em trabalho de pesquisa que se desenvolve na Universidade de Brasília. (Veja notícia de 09.04.2015)
Dando continuidade a essa retomada e intensificação de estudos de fontes e de análise de processos culturais, a A.B.E. promoveu uma nova visita ao museu e oficinas de construção de violinos e instrumentos de corda dedilhados na cidade de Mittenwald, na Alta Baviera. Essa cidade e as suas instituições já tinham sido visitadas nas décadas de 70 e 80, adquirem porém a partir do presente novo significado nos trabalhos euro-brasileiros.
Particular atenção merece o museu de construção de violinos e de cultura regional (Geigenbau- und Heimatmuseum), uma vez que manifesta os estreitos elos entre a tradição construtiva instrumental e a cultural da esfera alpina. O museu não apresenta apenas instrumentos executados com arco, mas também outros instrumentos de corda. Essa instituição remonta às atividades de um artista artesanal do século XVII, Mathias Klotz e seu filho Sebastian Klotz.
Ao lado da igreja matriz de Mittenwald, eleva-se um monumento a M. Klotz, mostrando-o na construção de um instrumento.
No museu, pode-se também apreciar os instrumentos históricos de Jacob Stainer, importantes exemplares da arte e técnica construtiva tirolesa.
Se em visitas anteriores considerou-se sobretudo a produção mais recente de violinos, a aquisição dos mesmos por violinistas brasileiros, os estudos atuais dirigiram a atenção sobretudo às inserções da produção instrumental no contexto cultural, ou melhor, nos processos culturais da região alpina, em particular por ser esta uma região de grande significado na Contra-Reforma e na recatolização missionária dos séculos XVII e XVIII.
Mittenwald e a sua região adquirem assim particular significado para o estudo de expressões culturais tradicionais, como por exemplo aquelas do carnaval com os seus Mascarados (Maschkera), espantadores dos diabos e ursos, e muitos outros grupos (Untersberger Mandl, Pfannenzieher, Schellenrührer etc.) e concepções e práticas relacionadas com madeira, sua deterioração e ruídos de significado evidentemente simbóilico e que são objeto de estudos de linguagem visual e de sentidos.
Esse apego a tradições e a um edifício cultural que se manifesta visualmente evidencia-se também nessa cidade na prática da pintura de fachadas de casas (Lüftmalerei, veja notícias anteriores, em particular de 10.04.). De diferentes épocas, nelas são representadas não apenas cenas religiosas, mas também de práticas tradicionais populares, da vida quotidiana e de trabalho.
13.04.2015
Civitavecchia. Grandes portos: Roma e Rio de Janeiro. Abertura dos trabalhos Itália-Brasil pelos 450 anos do Rio: Programna „Bossa Nova 2015“. Nos trabalhos preparatórios para as comemorações do Rio de Janeiro, salientou-se a atenção que deve ser dada a seu porto e a questões relacionadas com a situação portuária da cidade da cidade nos estudos de processos culturais.
A focalização desse porto como principal entrada no Brasil por décadas favorece e exige a consideração de contextos internacionais, de elos e rêdes constituidas por outros portos do mundo e as modificações por que passaram no decorrer do tempo. No porto de Antuérpia, consideraram-se assim os seus pouco estudados elos com o porto do Rio de Janeiro antes da Primeira Guerra, época da remodelação urbana da antiga capital, de sua projeção a serviço da imagem do Brasil na Europa através de meios diplomático-culturais, imagem que marcou por décadas a fisionomia de todo o país (Veja).
Em outra grande cidade portuária da Europa, Civitavecchia, na Itália, deu-se início à consideração de outros desenvolvimentos que determinaram a imagem do Rio de Janeiro e por extensão do Brasil na segunda metade do século XX e que ainda se mantém até o presente. Essa imagem mais recente foi e é marcada pelo surgimento e propagação internacional da Bossa Nova.
A questão que se levanta foi a das relações entre entre esse fenômeno músico-cultural que modificou sobre muitos aspectos a visão do Rio de Janeiro no Exterior com as transformações nos meios de transporte e de elos entre as nações, com a decadência gradativa da navegação de passageiros a favor da área e de suas implicações em processos receptivos e de difusão cultural.
Essas transformações de meios de comunicação com o Exterior devem ser também consideradas nas suas inserções em processos internos no próprio Brasil, com mudanças nas vias e meios de transporte - da ferrovia ao transporte rodoviário e aéreo -, assim como de uma reorientação de sistemas referenciais determinada pela construção de Brasília.
Esses trabalhos procuram favorecer estudos de orientação teórico-cultural do fenômeno Bossa Nova, superando aspectos meramente descritivos, biográficos ou de análises convencionais. Não se trata, assim, apenas da inclusão da Bossa Nova como tema a ser considerado na prática de concertos, shows e nos estudos musicais e musicológicos históricos convencionais, e muito menos de sua consideração numa área dedicada à música popular - devido à inconsistência da determinação de esferas culturais categorizadas a priori -, mas sim da procura de uma consideração adequada e fundamentada a partir de análises de processos culturais.
A escolha do maior porto do Lácio para a abertura do programa justificou-se pelo fato da cidade portuária ser a entrada por mar à capital da Itália e demonstrar como poucas as profundas transformações ocorridas na história dos grandes portos. A escolha de outros portos - Veneza, Gênova, Nápoles - traria consigo associações com outras épocas e contextos, seja o das relações com o Oriente, o da época de Colombo, ou do século XIX nos seus elos com o Brasil. Civitavecchia, porém, hoje pouco lembrada, surgindo apenas como passagem daqueles que, vindo por mar, se dirigem a Roma, foi nada menos do que o porto de guerra do antigo Estado Eclesiástico antes da unificação italiana e surgimento do estado nacional da Itália em 1870.
O programa „Bossa Nova 2015“ dá continuidade a um desenvolvimento teórico que teve como marco o colóquio internacional Brasil 2001 da A.B.E. e que foi prosseguido em cursos e seminários em universidades alemãs em cooperação com o I.S.M.P.S..
12.04.2014
Werl/Vestfália. arte, estudos culturais e ecologia: Homenagem à Floresta e „O descobrimento da Europa“. O encontro no museu ao ar-livre de Lindlar (Veja notícia anterior), dedicado a estudos da cultura quotidiana rural do passado e ecologia, trouxe à luz o significado da floresta e da natureza em geral nos estudos de linguagem visual que vem sendo desenvolvidos a partir de concepções e práticas relacionadas com S. Sebastião.
Esses estudos são promovidos por motivo dos 450 anos do Rio de Janeiro, tendo com o objetivo analisar mais profundamente as razões, conotações e implicações do fato de ser S. Sebastião padroeiro da antiga capital do Brasil.
Considerou-se, nesse encontro, várias publicações que vem sendo editadas no Museu de Werl e que relacionam religião, arte, etnologia e ecologia. Uma dessas publicações, pouco considerada na literatura referente ao Brasil, é o caderno que acompanhou exposição de pintura e objetos de Peter Turz, com poesias de Gerd Puls.
Peter Turz (*1946), gráfico e educador de artes, professor em escola de arte para jovens, relaciona na sua obra arte e ecologia, e, em sentido mais amplo, arte e vida. Considerando temas de atualidade na sua pintura e plástica, utiliza para estas materiais reciclados. Gerd Puls(*1949), professor, é autor de várias obras de lírica publicadas em revistas e antologias, assim como em livros e programas radiofônicos para crianças.
Trata-se de pinturas em aquarela e crayon, litografias, assim como objetos de galhos, penas, ossos e papel do início da década de 90. Como a obra „O descobrimento da Europa“ de 1992 indica, as obras inseriram-se em época marcada pela polêmica concernente às comemorações dos 500 anos do Descobrimento da América. Nela, o pintor mostra um missionário apresentando a cruz ao índio ou o índio vendo o missionário segurando a cruz, tematizando a relatividade de visões e de posições do „descobrimento“. O índio é confrontado em primeiro lugar com uma linguagem visual, uma vez que não pode entender a língua dos europeus. O processo de transformação cultural nos „descobrimentos“ partiu assim sobretudo de imagens, o que traz à consciência o significado de se „descobrir“ o edifício imagológico ocidental.
Esta uma problemática que esteve no centro das atenções do Congresso Internacional realizado em 1992 no Rio de Janeiro - ano da Conferência do Meio Ambiente - e que deu início a programa dedicado às culturas indígenas que até hoje tem prosseguimento, desde 2002 em dimensões globais. É oportuno retomar reflexões e debates daquela data no ano comemorativo do Rio de Janeiro de 2015.
A publicação abre com a aquarela „A floresta é incendiada“. A poesia que a acompanha, descreve de forma lírica que quando as árvores queimam, abrem-se estradas e não há mais caminho de volta.
Lindlar/Renânia do Norte-Vestfália. Religião no quotidiano da vida camponesa do passado e ecologia. O padroeiro do Rio de Janeiro e a natureza. Realizando um primeiro balanço do ciclo de estudos voltados a S. Sebastião nas tradições e na vida cultural da Baviera pelos 450 anos do Rio de Janeiro, visitou-se a exposição „Quotidiana Fé: o significado da religião“ no museu ao ar livre de vida quotidiana de camponeses e artesãos do passado em Lindlar, cidade da região de Berg, próxima ao Centro de Estudos Brasil-Europa.
O „LVR- Freilichtmuseum Lindlar“é um dos principais museus ao ar livre e centro de estudos da cultura tradicional ou rural do passado, assim como de ecologia da Alemanha. A exposição partiu da constatação de que a religião e a fé determinaram no passado a vida quotidiana da população rural. O ciclo do ano orientava-se pelos feriados religiosos. Festas rituais de passagem - batizado, casamento, enterro - estruturavam a vida. Valores e normas sociais, assim como o conteúdo de ensino de crianças refletiam concepcões cristãs.
Desde a Reformação, determinadas partes da Alemanha experimentaram uma mudança na vida quotidiana. Na região onde se encontra o museu, um mapeamento cultural mostra um tapete de diferentes grupos religiosos. Essa diversidade aumentou com o decorrer do tempo, oferecendo um quadro cada vez mais complexo da realidade da fé do homem.
Considerou-se aqui a situação do Brasil, marcada que é por profundas transformações nas últimas décadas com o aumento de grupos evangelicais de diferentes denominações, origens e inserções culturais, o que leva a mudanças na cultura tradicional católica do país.
Entre os aspectos salientados, tratou-se dos vestígios dessa religiosidade do passado em regiões rurais, tais como cruzes, nichos e capelas de caminhos e encruzilhadas. Lembrou-se que a colocação desses sinais visíveis como expressão de piedade particular podem ser registrados historicamente desde o século XIV. Representam atos de pedido e de agradecimento, servindo como sinais de memória ou de expiação. Frequentemente, possuem inscrições relativas ao motivo de sua ereção. Além da função religiosa, também serviam à orientação geográfica e como marcas de locais de perigo, sendo, assim, assinalados em mapas históricos. As pontes eram também marcadas com imagens de „santos de pontes“, tais como S. Martim, Cristóvão e sobretudo S. João Nepomuceno desde a sua canonização em 1729. A sua estátua em ponte de Praga serviu de modêlo para inúmeras outras pontes de toda a Europa.
Uma exposição especial é dedicada em Lindler à „Experiência Criação“. Nela apresenta-se a narrativa da Gênese como uma história de confiança e responsabilidade. Considerando-se aspectos da proteção ambiental, salienta-se que a Criação ainda hoje tem continuidade, exigindo a proteção e a atenção do homem.
Nesse contexto, estabeleceu-se uma ponte às reflexões e estudos relativos a S. Sebastião realizados em várias cidades da Baviera, uma vez que os atributos dessa imagem paradigmática apresentam elos com a natureza. Se florestas e animais se encontram presentes nas práticas tradicionais das irmandades de S. Sebastião e na prática dos atiradores, uma análise mais profunda revela referências de sentido ao sol. A análise de sentidos da linguagem visual se dirige assim ao luminar que, segundo a Gênese, foi criado no quarto dia no espaço aberto „entre as águas“ no segundo dia, não devendo, assim ser confundido com a luz ou o dia por êle iluminado. Essas reflexões levam assim aos fundamentos da linguagem visual da imagem do padroeiro do Rio de Janeiro, o que exige a continuidade dos estudos.
10.04.2014
Baviera-Brasil. Bad Tölz e Oberammegau. A pintura de fachadas sul-alemãs, austríacas e do Tirol (Lüftlmalerei) nos estudos culturais e de imigração - Diana e S. Sebastião. Os estudos de representações visuais e a questões de imagens relativos à S. Sebastião na Alta Baviera pelos 450 anos de S. Sebastião do Rio de Janeiro (Veja notícias anteriores) dirige a atenção a pinturas de fachadas que caracterizam cidades dessa região da Baviera, da Áustria e do Tirol. Nelas encontram-se figuras e ornamentos conhecidos do culto desse mártir inseridos em contextos mais amplos de relações bíblicas, hagiográficas, da natureza local e da vida quotidiana de camponeses e artesãos: por exemplo atiradores ou caçadores em quadros religiosos.
São essas pinturas externas da arquitetura que mais impressionam e mesmo fascinam pelo seu colorido regional um observador brasileiro, pois ela não se encontra nessa intensidade em regiões de imigração no Brasil. As casas, na sua arquitetura, são antes conhecidas da fisionomia de muitas cidades dessas regiões colonizadas por imigrantes de língua alemã no Brasil.
Com essas pinturas, as casas e as ruas de cidades podem ser lidas quanto a sentidos a elas emprestados por seus moradores, adquirindo individualidade. São testemunhos demonstrativos de convicções, expressões de retórica visual, aliciantes, que confrontam os habitantes e passantes continuamente com representações do universo cultural católico, acentuando os seus elos com a tradição, intensificando-os e atualizando-os.
Essas pinturas externas da arquitetura da região alpina surge nesse sentido como veículo da propaganda, compreendendo-se o seu florescimento no Barroco a serviço da Contra-Reforma e da recatolização centro-européia.
Se em igrejas brasileiras de Minas Gerais pode-se constatar - como naquelas européias - a representação de elementos arquitetônicos, de templos, cidades, teatros e sua abertura aos céus em representações de conteúdo teológico no interior das igrejas, nos Alpes essa sugestão pictórica de espaços e sua abertura da limitação terrena ao ilimitado passa para o exterior.
Muitas das fachadas apresentam representações de pórticos, colunas, frisos, volutas e outros elementos, tratados em perspectiva, dando profundidade às simples paredes das construções, transformando-as em pano de fundo de encenações, uma teatralidade que produz complexas relações de espaços.
A leitura dessas fachadas exige atenção diferenciadora, pois nelas se distinguem diferentes fases e transformações de processos receptivos teológicos, culturais e artísticos por parte de camponeses, artesãos e artistas populares ou voltados por convicção ao culto do tradicional. Em muitos casos, essa leitura é facilitada por palavras escritas, citações em geral de textos bíblicos ou de orações.
Essa pintura que é em consideração superficial meramente ilusionista (Trompe-l‘oeil) expressa ostentativamente, em linguagem por assim dizer campônea ou pastoril, criadora de uma atmosfera bucólica e idílica nas cidades alpinas, interações entre a história bíblica e eclesiástica com a cultura humanística fundamentada na Antiguidade Clássica, entre o mundo natural e o seu sentido religioso.
As fachadas apresentam não só santos e cenas bíblicas e hagiográficas, mas sim também referências mitológicas e ornamentações de plantas e flores conhecidas do artesanato, de pinturas em móveis e em trajes típicos. Essa pintura de fachadas traz à luz do exterior das casas, marcando a atmosfera ou o espírito das cidades, concepções de luz e espírito do edifício cultural. É significativo, assim, que incluam frequentemente o sol nas representações, também na forma de relógio de sol.
A lua encontra-se também presente, tendo-se aqui um dos exemplos mais evidentes em casa que apresenta Diana em Oberammergau. O observador brasileiro reconhece aqui de imediato um universo de imagens que conhece dos Pastoris do Nordeste, passando a ver essas cidades bávaras, austríacas e tirolesas com outros olhos: elas se revelam por assim dizer natalinas, pastoris, bucólicas, como se fossem presépios construídos.Nesse sentido, relacionam-se tanto com o mundo natural do hemisfério norte como com os seus sentidos religiosos: o da época do solstício de inverno, da transição do descendente ao ascendente no ano, e do mistério da incarnação.
A figura de Diana na casa do serviço florestal (Oberforstamt) de Oberammergau - representada como atiradora de flechas- abre os olhos do observador para uma linguagem simbólica que também é aquela das representações de S. Sebastião e dos raios de sol que ornamentam muitas das fachadas.
As representações do passado barroco tiveram consequências nos séculos que se seguiram, transformando-se, o que deve ser considerado na leitura dessas fachadas. Favoreceram um espírito restauracionista no século XIX, sendo revalorizadas sob a perspectiva romântica, o que também se manifesta na pintura de gênero e acadêmica. Um grande promotor dessa arte popular foi o rei Maximiliano II da Baviera (1811-1864), o que revela as dimensões políticas do tradicionalismo, uma vez que serviu à intensificação da identidade regional em época de anelos por unificação nacional. Esse monarca merece uma atenção nos estudos euro-brasileiros devido a elos da Baviera de seu tempo com D. Pedro I e a imperatriz D. Amélia de Leuchtenberg.
Não se pode esquecer os aspectos questionáveis de desenvolvimentos: essa linguagem visual serviu também no século XX a movimentos reacionários, evidenciados sobretudo em representações de indoutrinação nacional-socialista.
A linguagem de imagens do passado mantém-se no presente em parte no artesanato folclorístico, expresso numa quase que a-temporalidade da ornamentação floral de móveis de outros objetos de uso quotidiano e para o turismo na região. É essa produção em madeira, sobretudo de móveis, desenvolvida a partir do século XIX em especial em Bad Tölz, que merece ser considerada na sua recepção no Brasil, onde se constata uma extraordinária sobrevivência e continuidade de correntes de artesanato em madeira e da indústria de móveis que remontam a essa região.
Os pesquisadores procuram meios para diferenciar essas diferentes expressões, distinguindo entre uma pintura camponesa e uma pintura campônea, esta muitas vezes sendo desqualificada como Kitsch. Sugere-se aqui uma falta de autenticidade, uma inveracidade que indica relações adequadas entre a forma externa e o sentido interno.
09.04.2015
Baviera-Brasil: Berchtesgaden. S.Sebastião, atiradores e artesanato de madeira na Alemanha e no Brasil. Pelos 450 anos de S. Sebastião do Rio de Janeiro. Em continuidade aos estudos desenvolvidos em outras cidades da Baviera relatados em notícias anteriores, deve-se salientar aqueles relativos ao culto de S. Sebastião na região de Berchtesgaden, no extremo sudeste da Baviera Superior.
É uma cidade próxima a Salzburg, na Áustria, e de Bad Reichenhall, na Alemanha, tendo a sua história estreitamente relacionada com aquela da região salisburgense. Berchtesgaden, procurada devido à beleza de suas paisagens de montanhas e florestas por artistas e escritores, ficou marcada desde a última Guerra negativamente pelo fato de ter tido na montanha próxima de Salzberg um dos centros do nacionalsocialismo.
Entre aqueles que ofereceram resistência a nazificações de instituições e tradições na época distinguiu-se a Irmandade de Natal de S. Sebastião, que pôde sobreviver devido à simpatia de Hitler por costumes relacionados com atividades soldáticas. Já esse fato traz à consciência o significado da cultura religiosa tradicional na cidade e região.
A designação da irmandade refere-se ao costume de dar tiros para o ar, produzindo ruídos à época do ciclo de festas das 12 noites (Rauhenächte) entre o Natal e Reis. Como o nome alemão desse período sugere, trata-se de uma época do ano marcada por figuras com características rudes, cobertas de palha ou peles, assim como de estórias de caça e de caçadores selvagens, de remota proveniência. Os atiradores natalinos de Berchtesgaden fazem ressoar com os seus tiros o vale em forma de caldeira no qual se situa a cidade, criando um efeito mais impressionante do que em outras regiões.
Os atiradores são organizados em várias sociedades criadas como entidades no século XIX, pertencendo a uma associação-teto: a dos Atiradores de Natal Unidos da Terra de Berchtesgaden, criada em 1925. Essas associações dedicam-se à manutenção e ao cultivo de tradições regionais e religiosas, usando os atiradores um traje especial. Representam, assim, importante fator na consciência conservacionista e no tradicionalismo da região.
Apesar dessa estruturação relativamente recente, trata-se de tradição muito antiga, marcada por linguagem simbólica que exige estudos pormenorizados para poder ser compreendida nos seus sentidos e significados para a sociedade e região. A prática dos atiradores, apesar da sua designação natalina, não se resume a esse ciclo do ano, sendo exercitada também por ocasião de outras festas religiosas.
Essa prática de tiros de Ano Novo também pode ser constatada em regiões de colonização alemã no Brasil, como estudada por Cristina Rolim Wolffenbüttel. A conferência desta pesquisadora no Forum Rio Grande do Sul do Congresso „Música, Projetos e Perspectivas“, realizado em Gramado, em 2002, despertou a atenção para a necessidade de estudos mais detalhados dessa tradição na Europa de língua alemã, de suas origens, sentidos e características nas diferentes regiões.
Esses estudos contribuem também à compreensão das razões do foguetório por ocasião do Ano Novo e de grandes festas do calendário religioso, que, substituindo tiros, marca com o seu barulho a vida festiva das cidades brasileiras.
O significado das tradições natalinas em Berchtesgaden manifesta-se na própria denominação da cidade e região, uma vez que supõe-se derivar de Perchta, ou seja, da figura de sentidos ambivalentes e de folguedos natalinos que ainda hoje tanto caracterizam a esfera de Salzburg (Veja). Outras explicações supõem uma referência a caçador que vivia nessa região de florestas e, no passado, animais selvagens.
A história da cidade relaciona-se estreitamente com a de um convento de nome similar do século XII. Teria sido também a salvação de um acidente durante uma caçada que teria levado a uma promessa de construção de um convento por uma nobre no século XII.
A principal igreja que merece ser considerada por possuir um altar para a irmandade dos atiradores é a igreja de S. Pedro e S. João Batista, ainda denominada de igreja conventual (Stiftskirche), situada no centro da cidade, junto ao edifício que é hoje palácio. Essa igreja, de remotas origens, foi consagrada em 1122 pelo Arcebispo de Salzburg. A história eclesiástica da região é marcada pelas atividades dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho. O significado religioso e profano de Berchtensgaden para toda a região foi particularmente intenso de meados do século XVI até à Secularização, em 1803. Extinto o convento, o seu prédio passou a ser utilizado como residência de verão e castelo dos reis da Baviera, que para ali vinham em estações de caça no outono.
Os altares, construidos em meados do século XVII permitem que se reconheça um programa teológico que configura o interior da igreja, conferindo uma unidade referenciada segundo a Ascensão de Maria, representada no altar-mór. O altar de S. Sebastião, das irmandades do Rosário e de S. Sebastião, é um os dois altares laterais da nave, o do lado esquerdo, correspondendo ao de S. Agostinho do lado direito, o padroeiro dos Cônegos, datando respectivamente dos anos 1657 e 1666.
A fonte documental mais antiga que se conhece dos Atiradores de Natal de Berchtensgaden é de 1708. Supõe-se que a intensidade da prática na região tenha sido favorecida pelo fato de haver armas de fogo para a defesa local quando o convento ganhou em autonomia. Diferentemente dos atiradores montanheses que estavam a serviço da defesa do território, os atiradores de natal não possuiam, porém, tarefas militares, tendo antes sentidos religiosos.
Os seus membros veneram em S. Sebastião a imagem de um soldado transmitida pela hagiografia, segundo a qual o santo teria sido um oficial da guarda pessoal imperial romana que protegeu e defendeu os cristãos durante a perseguição diocleciana. Sendo, por isso, por ordem do imperador amarrado a um tronco ou coluna e flechado, sobreviveu milagrosamente, precisando ser morto posteriormente a pancadas. Aqueles que seguem o seu exemplo compreendem-se, assim, a serviço da proteção e defesa da cultura cristã.
A intensidade do culto de S. Sebastião na Baviera Superior - salientando-se, entre outras, a localidade de Ramsau - explica-se pelo fato de se encontrar na região - em Ebersberg - uma venerada relíquia do santo: uma parte ou partes do seu crâneo. Essa relíquia deu origem a vários costumes promovidos pelos Jesuítas à época da Contra-Reforma e recatolização. Entre elas, aqueles relacionados com o beber água ou vinho do crâneo de S. Sebastião, com o emergir no vinho pequenas flechas de metal bentas que serviam para o tratamento de diversas moléstias ou para prendê-las em rosários.
Correspondendo aos significados tipológicos considerados in Wildsteig (Veja notícia anterior), também em Berchtesgaden S. Sebastião é invocado como protetor de gado, sendo venerado por boiadeiros e camponeses em geral. Também aqui usa-se para o tratamento de doenças água que passa primeiramente pelo crâneo do santo.
Uma particularidade de Berchtesgaden que merece particular atenção é a relação entre a irmandade de S. Sebastião e a corporação dos artesãos em madeira. Em sua homenagem levantava-se uma árvore de S. Sebastião, ricamente ornamentada, com a imagem e flechas entrecruzadas. Tudo indica tratar-se aqui de uma referência à árvore na qual o mártir foi preso para ser alvo de flecheiros, sempre representada em pinturas e esculturas.
A flecha surge em todos esses costumes e práticas como principal atributo, cujos sentidos necessitam aproximações diferenciadas, pois não se limita à linguagem visual de S. Sebastião, podendo surgir também naquela de santas. A complexa ambivalência da imagem reside no fato de que a flecha pode trazer ferimentos e mortes, mas também servir de defesa de atacados, homens e animais. Tem-se salientado a sua relação com a entrada repentina, inesperada de uma doença, da peste ou de outra decorrência, tanto negativa como positiva. Entretanto, pesquisas mais aprofundadas indicam relações com a luz, com irradiações de sol e da lua, diferenciando-a da imagem do raio.
08.04.2014
Baviera-Brasil: Wildsteig na Estrada Romântica. Pelos 450 anos do Rio de Janeiro: S. Sebastião nas suas relações de sentidos com o Apóstolo Santiago. Dando continuidade aos estudos de concepções relativas a S. Sebastião na Baviera (Veja notícia anterior) pelos 450 anos de S. Sebastião do Rio de Janeiro, considerou-se a igreja de Wildsteig, localidade na „Estrada Romântica“, Baviera Superior, próxima da famosa Wieskirche.
Documentada desde o século XII, a localidade esteve em posse do convento dos Cônegos de Santo Agostinho até à Secularização, em 1803. A sede da paróquia localizava-se no povoado de Rottenbuch, situando-se no monte a igreja em questão, mencionada pela primeira vez como de „Santa Margarida“ em 1477.
Desde uma epidemia de peste, em 1634, que custou a vida de 158 pessoas numa aldeia de 400 moradores, acentuou-se o culto de S. Sebastião, que tornou-se segundo padroeiro da igreja, passando a ser o Apóstolo S. Tiago Maior (Santiago) o seu padroeiro principal. Na segunda metade do século XVIII, a igreja recebeu uma decoração interna magnificente, assim como uma nave central e uma torre, tornando-se uma obra magna da arquitetura do período de transição do Rococó ao Classicismo.
O objetivo dos estudos foi o de analisar, sob o ponto de vista da linguagem das imagens, as relações entre S. Sebastião e Santiago nesse período áureo do templo.
A igreja de Santiago e S. Sebastião adquire significado nos estudos culturais relacionados com S. Sebastião devido à representação do martírio desse santo em grande oval no seu teto. Se no mosteiro de Ettal ao mártir é dedicado o altar central de um tríduo de altares laterais, em Wildsteig a sua figura domina todo o espaço.
A cena central do mártir amarrado na coluna, assim como a do flecheiro que nele atira, além de outros detalhes, corresponde àquela da igreja de Ettal (Veja notícia anterior), sugerindo ter havido um modêlo comum. Devido porém à maior amplitude da pintura, esta inclui outros conjuntos de imagens, permitindo o reconhecimento de maiores relações de sentidos e contribuindo ao prosseguimento das reflexões encetadas em Ettal.
A cena, ao ar livre, ocorre numa área sagrada de antigo templo, vendo-se de um lado as suas colunas e, de outro, um altar de Mercúrio (Hermes). Este é incensado por um sacerdote. Sebastião surge assim como exemplo do cristão que se recusa a prestar culto a Mercúrio, i.e. seguir ou ser conduzido por esse deus. Ele não pode ser visto como anti-tipo de Mercúrio, mas daquele que se nega a ser regido por essa divindade. Segundo a mitologia, foi Apolo que teve os seus bois roubados por Hermes logo ao nascer, recebendo em troca a lira por este inventada. Apolo deixou de ser condutor de bois - boiadeiro - para ser aquele que, fazendo vibrar o instrumento, conduz as musas. Apolo é, ao mesmo tempo, o grande flecheiro, podendo tanto trazer peste, como curá-la.
Sendo relacionado com o sol, as suas flechas podem ser interpretadas com os raios desse astro e do tipo do homem-sol correspondente.
Sebastião surge nessa lógica intrínseca do sistema tipológico como anti-tipo de Apolo ou do homem apolineo: aquele que não é conduzido por Hermes/Mercúrio, mas por Santiago, o Apóstolo do Caminho. Sebastião não corresponde ao sol perceptível pelos sentidos, mas ao homem exemplar que irradia um sol interno, espiritual. É desse Sebastião-sol no teto que irradia toda a luz que inunda a igreja de Wildsteig.
Os brasileiros podem reconhecer sentidos nessa linguagem visual da igreja bávara melhor do que os próprios alemães, uma vez que conhecem tradições imagológicas já não mais vivas na Europa: Oxóssi nos Alpes!
07.04.2014
Brasil-Baviera: Ettal. Pelos 450 anos do Rio de Janeiro: S. Sebastião nos Alpes. Os trabalhos em desenvolvimento pelas comemorações da fundação do Rio de Janeiro na Alemanha promovidos pela A.B.E. incluem estudos relativos à imagem e à tradição da veneração do santo que é padroeiro do Rio na esfera religioso-cultural de língua alemã na Europa.
Entre as representações mais significativas do ponto de vista artístico de S. Sebastião conta-se aquela do mosteiro de Ettal, próximo à cidade bávara de Oberammergau (Veja notícia anterior), um dos grandes monumentos da arquitetura européia. Essa abadia beneditina, situada na circunscrição de Garmisch-Partenkirchen, é sede de internato de renome e centro religioso e cultural. Estreitos foram os elos nos anos 80 do século findo entre os trabalhos euro-brasileiros e monges desse mosteiro beneditino bávaro.
Por ocasião das solenidades da Semana Santa e da Páscoa do corrente ano, Ettal foi revisitado, procurando-se para futuro próximo cooperações com os trabalhos euro-brasileiros na esfera Brasil-Alemanha como representada pela A.B.E..
A igreja é uma obra que reflete a transformação barroca de antiga igreja do período culminante do Gótico, sendo porém a fachada convexa da igreja concluida apenas entre 1894 e 1901.
O corpo central do templo é constituido por sete eixos, sobre os quais se eleva uma imponente cúpula, uma das obras magnas da arquitetura ítalo-bávara do Barroco. O seu interior resplandesce em luz e cores. Todas as representações pictóricas conduzem ao céu representado na cúpula, de 1746, no qual se distingue um mar de nuvens e a coroação de S. Bento no trono da SS. Trindade. O altar-mór apresenta uma pintura da Ascensão de Nossa Senhora.
Na nave, encontram-se seis altares, com pinturas de diferentes artistas, entre elas a do martírio de S. Sebastião. Esta obra é de Martin Knoller (1725-1804), de 1765, sendo o altar ladeado pelas imagens de outros mártires: S. Estevão e S. Lourenço.
Este artista, nascido em Steinach no Brenner, é considerado como o mais importante pintor al fresco da esfera alpina de língua alemã, em particular no Tirol e na Baviera. Devido à sua formação em Roma, porém, onde teve orientação entre outros com Johann Winckelmann (1717-1768), o fundador da Estética como disciplina, a sua arte se movimenta entre o Barroco e o Clássico.
A representação do martírio de S. Sebastião na igreja de Ettal evidencia a supremacia do Barroco na encenação patética do ato, impressionando pelo seu colorido vital e luminoso, irradiante, e sobretudo pela movimentação das figuras referenciadas pelo vulto central de S. Sebastião. Na sua representação atlética, S. Sebastião evidencia concepções apolíneas, permitindo análises tipológicas relacionadas com o estudo da Antiguidade, em particular de Apolo e suas relações com o sol, o que é plausível considerando a formação do artista com Winckelmann.
O arco e flecha impunhado pelo atirador que participa no martírio do grande soldado e flecheiro adquire particular relevância para a análise da linguagem visual quadro: S. Sebastião é aquele que recebe a flecha, surgindo como exemplo para aqueles que o veneram. Compreende-se, aqui, a imagem visual conhecida de práticas de culto no Brasil - por exemplo da Umbanda - na qual surge o símbolo do arco e flecha com esta dirigida para dentro. As dimensões teológicas, filosóficas e as implicações dessa linguagem visual na Europa e na sua recepção no Brasil constituiram o centro das reflexões em Ettal. Tiveram e terão prosseguimento em 2015 na consideração de representações de S. Sebastião em outras localidades e regiões.
05.04.2015
Salzburg/Áustria. Ovos de Páscoa na tradição popular à alta joalheira de Fabergé: nascimento/renascimento e música na cidade de W.A. Mozart. Os elos entre a imagem do ovo e outras expressões tradicionais da festa da Páscoa com a música na região alpina manifestam-se no culto a Mozart tanto na Baviera alemã como na região austríaca de Salzburg. O estudo comparado das expressões tradicionais de Páscoa no Brasil com aquelas da Europa não pode deixar de considerar aquelas da região alpina dos países de língua alemã.
Como considerado em notícia anterior, a cidade alemã de Bad Reichenhall, um balneário estatal, vem sendo marcada nas últimas décadas por uma crescente intensificação do culto de Mozart, o que se manifesta em eventos artísticos de renome internacional. Para além de concertos e encenações de óperas, a presença de Mozart se faz sentir na vida do balneário nos cafés e confeitarias, em particular naquela que produz as „bolas de Mozart“ mundialmente conhecidas.
As confeitarias de Salzburg, por sua vez, impressionam pela profusão de ovos de chocolate de todas as cores, em quantidade, variedade e características provavelmente únicas no mundo.
A concorrência entre a firma alemã de Bad Reichenhall e a produção austríaca de bombons Mozart de Salzburg manifesta-se de forma expressa em cartazes informativos, reclames e embalagens que afirmam a prioridade histórica de Salzburg. Este é o caso do Café Fürst, que festejou os seus 125 anos em 2009 e que afirma ser a única que confecciona a original „bola de Mozart“ de Salzburg.
Aliás, essa confeitaria criou, pelos 300 anos de Johann Sebastian Bach, em 1985, também os bombons de formado retangular das „Bachwürfel“.
Segundo a história divulgada pela firma, foi o confeiteiro Paul Fürst que, em 1890, inventou a a „Salzburger Mozartkugel“ conhecida em todo o mundo. Em 1905, obteve a medalha de ouro pelo produto na Exposição Internacional de Paris. O atual proprietário da firma, Norbert Fürst, continuou a produzir essa especialidade segundo a receita original .
As vitrines dessas lojas apresentam combinações entre ovos decorados com materiais resplandescentes de efeitos luz e bolas que similares àquelas de Natal, brilhantes em cores claras, brancas e prateadas, sugerindo trabalhos de joalheira.
O observador ganha a impressão de que se faz aqui uma relação entre a Natividade e a Ressurreição, sugerindo-se assim através do uso relacionado de bolas natalinas e ovos o re-nascimento. Tanto bolas como ovos apresentam em parte efígies de Mozart e motivos musicais.
Expressamente veem-se referências à obra de alta joalheria de Carl Peter Fabergé (1846-1920), registrando-se reproduções de enfeites-jóias em forma de ovos de Páscoa. Esses preciosos objetos, criados no passado na oficina de Fabergé em St. Petersburg, associam-se com a tradição religiosa ortodoxa russa, trazendo à lembra os magnificentes ovos imperiais produzidos para o Czar assim como aqueles não-imperiais criados para a aristocracia.
Essa tradição de presentear ovos de Páscoa particularmente intensa na esfera da Ortodoxia - e que se evidencia nos ovos artisticamente pintados dos países do Leste europeu, também estudados e conservados em museus (Veja) - alcançou dimensões de alta joalheira quando o Czar Alexandre II (1845-1894) presentou a sua esposa com um precioso ovo-jóia da oficina de Fabergé.
Sendo Salzburg - e Bad Reichenhall - hoje visitado por muitos russos, torna-se particularmente compreensível o peso dado a essas referências à arte de Fabergé na cidade austríaca. É possível, porém, estudar de forma mais aprofundada esses elos e transformações entre imagens da tradição popular do Ocidente e aquelas do Leste com obras de arte da joalheria.
04.04.2015
Bad Reichenhall/Alemanha. Ovos de Páscoa nas suas relações com a música: as „bolas de Mozart“ na região alpina da Baviera. Se a Paixão é ao lado do Natal e Reis o período do ano mais significativo e rico em tradições populares da região alpina, sendo assim de fundamental relevância para o estudo comparado de expressões culturais do calendário de festas religiosas entre a Europa de língua alemã e o Brasil, (Veja notícia anterior) a Quaresma e a Semana Santa não podem deixar de turvar a atenção para a Páscoa e o período pascal, a principal festa do ano.
Com os seus feriados e férias escolares, essa região da Baviera e da Áustria, assim como da Suíça é alvo de visitas, intensificando-se a vida cultural de cidades da região justamente em época na qual o início da primavera, com o ressurgir da vegetação, corresponde ao conteúdo religioso festejado.
Por todos os lados vêem-se representações da Ressurreição em altares, pinturas murais de interiores de igrejas e das fachadas barrocas, podendo-se dizer que é esse espírito de alegria pascoal que se encontra à base da alegre e leve fisionomia do Catolicismo nessa região centro-européia.
Essa concepção e imagem da religião, resultados de movimento de recatolização e Contra-Reforma dos séculos XVII e XVIII, refletem-se e são intensificadas pela música sacra pelos coros e orquestras das suas muitas igrejas e conventos, nelas cultivando-se ainda hoje grandes missas sinfônicas do Classicismo, raramente executadas em celebrações litúrgicas em outras regiões do mundo.
Inúmeras são as expressões tradicionais e as práticas festivas que podem ser comparadas com aquelas do Brasil. Muitas delas levantam aos folcloristas e outros pesquisadores culturais questões relativas às suas origens e razões, como aquelas do coelho e do ovo da Páscoa, assim como o do consumo de doces e chocolates.
Um dos aspectos dessas características do período pascal que chamam a atenção nessa região são os elos entre esse consumo mais acentuado de chocolates nessa época com a música, mais particularmente com o culto de W. A. Mozart. Essas relações tornam-se compreensíveis em Salzburg, cidade austríaca que abriga a casa do compositor, hoje museu, e que tem na sua principal praça um monumento ao compositor. Elas podem ser porém também registradas na cidade próxima de Bad Reichenhall, já aqui no lado alemão. Essas duas cidades surgem em concorrência relativamente à produção das famosas „bolas de Mozart“.
A firma de Bad Reichenhall Paul Reber, que fabrica ca. de 500.000 bolas Mozart por dia, sendo assim o maior produtor desses bombons do mundo, marca com a sua confeitaria a principal rua desse balneário estatal bávaro e que apresenta, nessa época do ano, vitrines e dependências profusamente ornamentadas com motivos de Páscoa, óvos, bombons Mozart, e muitas referências à sua vida. Esses motivos musicais dominam um café ao ar livre em pátio central com estátuas e placas comemorativas de W.A: Mozart e de sua mulher Constância, nascida Weber (1762-1842).
Em placa ali existente, celebra-se Constância como tendo sido ela própria cantora lírica e mãe de seis filhos de W. A. Mozart. Essa firma louva os seus produtos como sendo as legítimas bolas de Mozart, cobertas de chocolate praliné e recheadas de pistachio, marzipam e nougat de avelãs. Com esse reclame, encontra-se em concorrência com a firma Mirabell de Salzburg.
A razão do culto de W.A. Mozart em Bad Reichenhall reside no fato de que a família Mozart passou várias vezes pela cidade nas suas viagens à Itália. Bad Reichenhall era centro importante do cultivo musical, em particular devido ao convento St. Zeno dos Agostinhos, de renome pela qualidade de sua prática coral e instrumental. Em 1771, Leopoldo e Wolfgang Mozart presenciaram ali uma execução musical no período da Paixão que os impressionaram.
Em 1780, Wolfgang e sua irmã ali passaram algumas semanas. Tem-se notícia de que os Mozart apreciaram a estadia, a comida, a cerveja e o ar dos gradeados de sal do balneário. Dessa forma, os promotores culturais de Bad Reichenhall acentuam sempre que os elos de Mozart com a cidade não derivam apenas da proximidade desta a Salzburg, mas se fundamentam numa própria tradição. Hoje, Bad Reichenhall surge como „cidade Mozart“ sobretudo pelas Semanas Musicais Mozart que ali todos os anos se realizam.
Oberammergau/Baviera. A Paixão na região alpina e no Brasil: leitura não-literal de textos. Os estreitos elos da Academia Brasil-Europa e a região alpina da Áustria e da Alemanha, derivados de sua tradição remontante a academia de renovação na cultura e nas artes da Europa fundada em Salzburg (Veja), explicam a particular atenção que vem sendo dada desde 1975 a essa região da Europa nos estudos euro-brasileiros.
Na série de trabalhos e encontros que se realizam em cidades bávaras e austríacas da região, inseriram-se aqueles desenvolvidos na Caríntia e na região de Salzburg, em 2014 (Veja). Em cidades mais estreitamente vinculadas com a história dos trabalhos euro-brasileiros, como Hallein e S. Johann im Pongau, voltou-se a considerar tradições populares em cotejos com aquelas brasileiras, em particular da época do Advento, Natal e Reis (Veja).
O grande patrimônio de expressões tradicionais do ciclo anual de festas católicas dessa região, ainda mais intensamente cultivadas do que em outras regiões da Europa, faz com que os Alpes surjam como esfera privilegiada para estudos de Folclore e áreas culturais afins.
Para além do Natal e Reis, é o tempo da Paixão que mais marca a cultura tradicional da região. Esse fato manifesta-se da forma mais evidente no grande número de cruzes nos cimos das montanhas, encruzilhadas e caminhos, assim como também em capelas e altares em igrejas, em pinturas murais nas fachadas barrocas ou neobarrocas de edifícios e no artesanato em madeira.
As representações da Paixão representam o foco da vida cultural da cidade bávara de Oberammergau da circunscrição de Garmisch-Partenkirchen, sua principal atração turística, a seu redor girando todas as atividades religiosas e culturais da cidade. Oberammergau possui importantes exemplos de pinturas murais - a assim chamaa Lüftlmalerei - entre outras a „casa de Pilatus“, significativa para estudos de arquitetura e pintura de fachadas alpina. Arquitetura, pintura, arte cenográfica, artesanato e tradições populares relacionam-se nesse mundo barroco dos Alpes.
De dez em dez anos ali se realizam as representações da Paixão, uma encenação que remonta ao século XVII, quando foi iniciada por motivo de uma peste que assolou a região. Esse teatro da Paixão, o mais conhecido do globo, foi já várias vezes considerado em cotejos com encenações correspondentes no Brasil, em particular no Nordeste, lembrando-se aqui de Nova Jerusalém.Para a realização da Paixão, que hoje é considerada como parte do patrimônio imaterial sob proteção na Alemanha e que é visitada por extraordinário número de assistentes de todas as partes do mundo, construiu-se em 2007 uma Casa de Festivais. Esse teatro é utilizado para a encenação de óperas, peças teatrais e outros eventos.
Em 2010, a Paixão foi renovada na sua concepção teológica e encenação. O peso foi dado à mensagem expressa no Sermão da Montanha e à conversão no sentido de uma dedicação a todo o homem, sem diferenças e exclusões.
Na visita realizada no corrente ano, retomou-se a discussão que levou na época a polêmicas, acentuando-se o significado dessa mensagem na atualidade, em particular sob a nova atmosfera fomentada pelo atual Pontífice e no contexto da discussão de problemas relativos à questões de família nas suas diferentes formas e de concepções que leva a exclusões e discriminações.
Trata-se por último de problemas resultantes de uma necessária superação de uma leitura literal dos textos bíblicos, da sua interpretação „ao pé da letra“ -, superficial, inadequada e insustentável teoricamente e do ponto de vista filosófico e mesmo teológico, sendo causa de fundamentalismos e visões restritas de toda a ordem.
03.04.2015
Oceano Índico-Brasil: Programa de estudos e conferências internacionais - Imigração, Estudos Coloniais e Colonialismo 2015 - Revista Brasil-Europa 154: Madagascar-Brasil. Realizou-se, em janeiro e fevereiro do corrente ano, viagens de contatos, observações e pesquisas a vários países e regiões do Oceano Índico patrocinadas pela Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais, fundação que mantém a A.B.E. e institutos afins. O empreendimento, excepcional no gênero pelas suas dimensões e complexidade da sua organização e preparação, incluiu Maurício, Madagáscar, Seychelles e La Réunion.
Os trabalhos deram continuidade a estudos relacionados com o Brasil já anteriormente realizados nessa esfera do globo, em particular aqueles levados a efeito em Maurício, em 2009. (Veja) O motivo de retomá-los é o da passagem dos 300 anos do início da colonização francesa dessa ilha, no passado denominada de Île de France. Essa data, que é comemorada no presente ano na França, em particular na Bretanha, é relembrada sobretudo em La Réunion, uma vez que esta ilha é um departamento do ultramar francês, e assim parte da União Européia.
Esse fato deu ensejo à realização de encontros e visitas a instituições no âmbito das conferências internacionais dedicadas à imigração, estudos coloniais e colonialismo do presente ano, um complexo temático que vem sendo desenvolvido de forma pioneira pela organização Brasil-Europa desde a década de 70 do século findo. Um de seus objetivos foi sempre o de renovar epistemologicamente os estudos voltados à imigração e colonização, necessidade que levou a um simpósio internacional já em 1993. Também no contexto desses trabalhos realizaram-se os primeiros seminários universitários dedicados a estudos coloniais e a relações entre emigrações/imigrações/migrações, cultura e artes.
Os empreendimentos de 2015 contaram com o apoio e a colaboração de instituições e pesquisadores locais, salientando-se aqui o Arquivo e a Biblioteca Nacional de Seychelles, o Instituto Internacional Creolo desse país, o Museu de Artes de La Réunion e, entre as religiosas, a congregação dos Oblatas de Maria Imaculada no Madagáscar.
Os encontros e os estudos desenvolveram-se sob o signo das comemorações dos 450 anos do Rio de Janeiro, uma cidade que é sempre lembrada nessa esfera insular devido à baía de Diégo-Suarez, cidade do norte do Madagáscar que é uma das maiores do mundo e que possui um „Pão de Açúcar“. (Veja)
Os relatos dos trabalhos serão publicados em duas edições da Revista Brasil-Europa do corrente ano. Acaba de ser colocado à disposição pela Internet aquele que trata em especial de Madagáscar. (Veja) Assim como em muitos outros casos, o estudo de relações e paralelos entre esse país e o Brasil são tratados aqui pela primeira vez, abrindo-se assim uma nova área de estudos. Apresentam-se textos que tratam, entre outros aspectos, dos elos entre o Brasil e o Madagáscar na história dos Descobrimentos portugueses (Veja), da presença francesa no Brasil e no Índico (Veja), de elos entre o Brasil e o Madagáscar no século XIX atráves da viajante austríaca Ida Pfeiffer e seu filho Oscar Pfeiffer (Veja), dando-se especial atenção a questões relacionadas com o papel da mulher em processos coloniais (Veja) e à música e dança (Veja), em particular à sega, aqui apresentando-se conhecimentos renovadores de concepções (Veja). Esses últimos trabalhos marcam os 40 anos do programa de conferências dedicadas à Musicologia Interdisciplinar iniciados com sessão no Museu de Instrumentos de Berlim, em 1975, mas preparadas no Brasil. (Veja)
Benediktbeuron/Baviera-Brasil. 200 anos Dom Bosco 1815-2015: ser alegre, fazer o bem e „deixar que os pardais assobiem“. Quem visite o antigo mosteiro de Benediktbeuron, um dos mais importantes monumentos arquitetônicos e histórico-culturais da Baviera, não espera ali encontrar um centro dos Salesianos e através deles, um contexto de extraordinário significado para os estudos culturais relativos ao Brasil. O local e o edifício respiram ainda o espírito beneditino que remonta à sua fundação e à sua história de séculos. A fundação do convento Buron, um dos mais antigos da Alemanha, remonta a Carlos Martelo no ano 725 e a sua igreja foi consagrada por S. Bonifácio em 739. Após ter sido destruído pelos magiares em 955, foi reconstruído com ajuda de S. Ulrich de Augsburg. Em 1031, foi repopulado com beneditinos vindos do lago Tegernsee.
No seu periodo de apogeu, foi centro do cultivo agrícola, do ensino, a arte e da ciência. Em 1250, a sua biblioteca possuia ca. de 250 manuscritos. A Carmina Burana, que nos meios musicais brasileiros mais torna presente o nome Benediktbeuron, ainda não tendo sido ali escrita, pertenceu a seu acervo. Após incêndios e destruições durante a Guerra dos 30 anos, o mosteiro vivenciou novo período de florescimento nos séculos XVII e XVIII, ali criando-se um ginásio e a faculdade de teologia para a congregação beneditina da Baviera. Como monumento arquitetônico, o mosteiro é uma das grandes obras do Barroco, nela tendo atuado renomados artistas e artesãos. À época da secularização, em 1803, o mosteiro foi extinto, sendo os edifícios utilizados para diferentes fins militares, como abrigo para inválidos e prisão.
A fase atual do edifício como centro salesiano é recente, tendo-se iniciado em 1930. Os religiosos de Dom J. Bosco (1815-1888) adquiriram a propriedade para nela prepararem noviços. Essa revitalização procedeu-se em outro espírito daquele dos beneditinos e que se manifesta na arquitetura. Se os estudos, as artes e a erudição científica tinham estado sempre no centro da vida monacal, agora as atividades - também as culturais - passaram a se dirigir decididamente à formação de jovens segundo o modêlo de seu criador.
Este foi guiado, em época da Restauração européia e da recatolização européia pelo intento de apoio à juventude necessitada da sua cidade, Turim, já então marcada pelos problemas sociais da industrialização. Em 1844, fundou um Oratório que, como uma espécie de centro de jovens, foi o primeiro da série de instituições que surgiram em muitos países, também no Brasil. O objetivo desse Oratório era o de fornecer moradia e abrigo familiar a jovens, uma escola para a sua formação à vida, um local de lazer e encontro e uma igreja, para que se educassem na fé cristã. Em 1859, a comunidade foi criada, e, paralelamente, surgiram a das irmãs Salesianas e a dos colaboradores, experimentando um extraordinário crescimento e difusão. Já em 1875 partiram os primeiros missionários para a América do Sul, sendo o seu primeiro responsável J. Cagliero (1838-1926). Em 1877, as primeiras irmãs salesianas partiram para o Uruguai.
Os Salesianos representam assim uma expressão dos anelos e desenvolvimentos do século XIX, embora atualizando-se no decorrer dos tempos, em particular após o Concílio Vaticano II.
Também no Brasil, os Salesianos construiram uma vasta rede de centros, de escolas e faculdades, sempre no espírito do seu fundador e voltadas à educação e à formação de jovens. Também a ação missionária que desenvolveram, em particular junto a grupos indígenas do Mato Grosso e do Amazonas necessita ser considerada sob o signo da tradição salesiana, dos seus objetivos educativos a favor da juventude. Apesar dessa orientação, muitos salesianos tornaram-se estudiosos dos contextos culturais em que atuaram, adquirindo renome como pesquisadores, constituindo materiais por êles coletados importantes fundos de museus missionários, entre êles o de Campo Grande, MS. Estreitos foram os elos de Salesianos com o movimento de renovação dos estudos culturais que se desenvolveu desde os anos 60 e que hoje constitui a organização de estudos de processos culturais em relações internacionais da A.B.E..
O apoio de religiosos e de instituições salesianas foi decisivo para o desenvolvimento de vários projetos. A participação de Salesianos em grêmios diretivos e como conselheiros levou a encontros em centros da comunidade, entre êles também a visitas a Benediktbeuren nos anos 70 e 80. Por motivo do bicentenário de Dom Bosco e da exposição ali preparada, realizaram-se ciclos de estudos bávaro-brasileiros. Vários nomes de Salesianos que se distinguiram nos estudos culturais e musicais do Brasil foram relembrados, assim como momentos das cooperações das últimas décadas. O objetivo das reflexões foi o de realizar um balanço dos desenvolvimentos, do estado atual e considerar possibilidades para o futuro. Alguns aspectos das reflexões serão relatados em notícias nesta página.
09.03.2015
Ossiach-Brasília. Áustria-Alemanha-Brasil-Paraguai: conferências internacionais de processos transculturais 40 (1975-2015). Dimensões da recepção da cítara dos Alpes na América do Sul. Com a Profa. Maria Elisabeth Ernest Dias, da Universidade de Brasília, voltou-se a tratar do tema relativo à recepção de instrumentos da região alpina na Améria Latina, em particular da harpa e da cítara. Como mencionado em notícia de 16.02.2015, o tema foi considerado recentemente no âmbito das conferências internacionais de processos transculturais pelos 40 anos do início desses estudos na Alemanha em programa possibilitado pelo DAAD (1974-79), e que incluiu agora encontros com os músicos paraguaios Alberto Benitez (canto) Dany Brisa (harpa). Esses músicos se empenham em divulgar a música do Paraguai e de países vizinhos na Europa, incluindo porém nos seus programas choros brasileiros em versão para harpa paraguaia, o que exige pesquisas e estudos. Esse intento tem como objetivo contribuir à aproximação cultural de ambos os países, sendo, assim de central interesse para os estudos de processos culturais transatlântico-interamericanos.
Este é um dos objetivos centrais da fundação que mantém a A.B.E., que há décadas se dedica de forma pioneira a estudos inter-e transculturais relacionados com a música, tendo introduzido essa área de estudos na Europa. Os debates sobre harpa paraguaia nas suas relações com o Brasil com os músicos paraguaios foi precedido por encontros na Áustria, em 2014. Em Ossiach, na Caríntia, foram considerados vários aspectos de relações austríaco-alemãs-brasileiras (veja notícia de 12.10.2014). Estes encontros, por sua vez, deram continuidade ao discutido em diversas ocasiões em Augsburg e Altöttingen, Alemanha. Nas trocas de idéíás com o duo paraguaio, procurou-se dar continuidade aos estudos das últimas décadas, o que foi agora recordado com a pesquisadora de Brasília.
Como varias vezes tratado em publicações, cursos de música no encontro de culturas, de históría da música em contextos globais e de WorldMusic realizados em cooperação com o ISMPS, a referência mais antiga que se conhece diz respeito à prática missionária de religiosos vindos da esfera do sul da Alemanha e Áustria para o Paraguai , da qual a fonte mais importante é a do relato de viagem do P. Anton Sepp von Rechegg, do Tirol (1655-1733), publicada em várias edições (e.o. 1696 em Brixen, 1697 em Nürnberg; 1698 em Passau, 1712 em Ingolstadt e 1768 em Nürnberg), sendo também traduzida para o português.
Esse religioso, pertencente juntamente com Anton Böhm da Baviera ao grupo dos primeiros missionários em língua alemã que vieram para as missões do Paraguai, tinha recebido formação musical, e.o. com o mestre-de-capela de Augsburg, Johann Melchior Glette (1626-ca. 1684). Já na sua partida tinha tido a intenção de usar da música na sua ação missionária, surpreendendo-se porém com o significado e as características da música entre os indígenas da missão. A prática musical e a fabricação de instrumentos já tinham sido implantadas por missionários anteriores, provenientes dos Países Baixos e da Espanha. Assim, à sua chegada, os índios praticavam música vocal que lhe pareceu antiquada, sem baixo-contínuo, mas com a voz baixa realizada por um instrumento, de modo que não o fundamento, mas a voz superior tornava-se condutora.
Com base na sua formação apenas elementar em composição, tendo recebido rudimentos escritos do Pe. Christoph Brunner em Altötting, passou a escrever pequenas peças para o uso litúrgico. Procurou aqui por no papel trechos de peças que sabia de cór, entre elas algumas de Glette. A sua principal atenção dizia respeito ao acompanhamento instrumental da música sacra, para o qual passou a formar instrumentistas. Instrumentos de sopro foram usados para o apoio das vozes. A melódica foi influenciada por peças populares tradicionais ou de danças da esfera austro-bávara.
O Pe. Sepp ensinou os índios de todas as reduções tocar vários instrumentos: órgão, cítara - aqui também um instrumento com caixa de ressonância de tartaruga, teorbe, trombone, flauta, fistula, instrumentos militares e tambores, além da guitarra e do "suave psalterium" de David, executado com duas baquetas. Não apenas ensinava os indígenas a tocá-los, mas também a construi-los. Assim, o missionário salienta que os indígenas passaram a tocar na harpa que inventou - e que se tornou característica do Paraguai - partes de suites, entre outras de Johann Heinrich Schmelzer (ca. 1623-1680), um compositor de danças populares de Viena. De longe vinham índios para aprender o novo estilo, que logo se difundiu em grande área. Um dos índios que se tornou particularmente conhecido como executante foi um menino de apenas 12 anos do povoado de S. João Baptista. Nomes como de Heinrich Schmelzer, Ignaz von Bibern e Teubner eram conhecidos entre os instrumentistas e os tocadores de cítara e harpa do Paraguai. O jovem tocava segundo as palavras do missionário prelúdios na cítara de David ou harpa com suavidade e grande habilidade técnica.
A "cítara de David" era um novo desenvolvimento ou uma invenção do P. Sepp. O instrumento possuia duas séries de cordas, nas quais o executante podia fazer soasr também semitons da escala cromática. Isso dava à harpa possibilidades de um instrumento de teclado com as suas teclas brancas e pretas, sendo apto ao acompanhamento de cantos em maior ou menor.
Os missionários davam uma explicação para esse sucesso: os índios não teriam condições para estudos especulativos, mas captariam com facilidade tudo o que fosse perceptível e sensível, sendo muito hábeis para tudo que fosse artesanal. Orientando-se no que viam, sabiam fazer surpreendentes imitações e recriações. Também as encenações populares, com música e dança, eram assim representadas com habilidade e, assim como a música, caracterizavam-se não por introspecção ou pelo trágico, o que teria exigido uma compreensão espiritual mais profunda, mas pelo gracioso e agradável.
A difusão dessa prática de índios catequizados de missões espanholas no Brasil, cujo apogeu teria sido ao redor de 1730, ter-se-ia dado com a ação de bandeirantes que trouxeram indígenas para as regiões costeiras e, a seguir, com a expulsão dos jesuitas em 1759. A vinda de grupos indígenas em direção ao Atlântico correspondia também a antigos impulsos da sua própria cultura, a procura da terra sem males, fato discutido no simpósio „Música na Procura de uma Terra sem Males“, realizado no âmbito do tema da Campanha da Fraternidade da CNBB em 2002/3. 
Em todo o caso, sabe-se que índios cristãos atuavam como soldados, serventes e músicos, e grupos percorriam regiões de São Paulo em fins do século XVIII e início do XIX, sobretudo por ocasião do Natal. Como Jean Baptiste Debret testemunha no seu estudo dedicado à Academie des Beaux Arts do Institut de France, esses índios tocavam instrumentos de própria fabricação em igrejas, acompanhando a música vocal. Essa prática provinha do trabalho missionário dos antigos jesuítas no sul do Brasil, ou seja de territórios do atual Uruguai, Paraguai e Rio Grande do Sul.
Mesmo que o instrumento de origem alpina não seja mencionado e mesmo permanecido no Brasil, a pesquisa não pode perder de vista relações entre desenvolvimentos brasileiros com a linguagem e a prática de execução musical remontante às atividades de missionários do sul da Alemanha e da Áustria nas missões sul-americanas. A imagem nele subentendida - a harpa de David - continuou a ser condutora no pensamento teológico-musical.
Esses processos inter- e transculturais foram estudados compreensivelmente no âmbito do projeto internacional dedicado a culturas musicais indígenas patrocinado pelo Ministério das Relações Exteriores da Alemanha, iniciado e desenvolvido sob a direção do presidente da A.B.E.. O tema foi considerado em sessão no Itamaraty, em 2002. Foi tratado, entre outros textos, nos ítens "Musik bei der geistigen Eroberung Paraguays und Paranás durch die Gesellschaft Jesu" e "Musikalische Formung und Stilwandlung in den Missionen" in A.A.Bispo, Die Musikkulturen der Indianer Brasiliens: Stand und Aufgaben der Forschung IV - Zur Geschichte der Forschung, Musices Aptatio/Jahrbuch 2000/2001, Rom/Colonia 2002, 84-85.
Alagoas. Correspondência relativa à cultura em Chã-Preta e região. José de Arimatéa (Ari) de Vasconcelos Teixeira, vinculado à Secretaria Municipal de Educação e à Associação de Cultura Popular Mestre Pedro Teixeira de Chã-Preta, com ações em gestão cultural, redes sociais e comunicação, envia dados à A.B.E. sobre o desenvolvimento dos estudos culturais locais e regionais em Chã-Preta. O pesquisador realizou uma retrospectiva do escreveram Theo Brandão, Alfredo Brandão e Pedro Teixeira sobre as origens culturais a região onde está Chã-Preta no seu livro Pesquisando Chã-Preta, aprofundando o assunto na sua segunda edição.
Lembra que Pedro Teixeira reforçou no livro Andanças pelo Folclore que o pioneiro mestre na área foi Joaquim Salustiano, conhecido por Jacu, pagodeiro, cantador de coco e poeta popular repentista de peleja que, entre 1920 e 1930 morou na Várzea do Jacu. José Aloísio Brandão Vilela, no livro O Coco de Alagoas, 1951, relata: “O negro Jacu, do engenho Barro Branco foi o maior cantador de coco de Alagoas. A feição original da música de seus pagodes era a moldura colorida que o destacava na vasta galeria dos intérpretes do coco. Tornava-se impossível aos seus rivais, reproduzirem os seus múltiplos sons e desenvolverem aquela difícil ginástica do seu canto bizarro”.
Para o missivista, as raízes da cultura popular regional estariam no povoado Tobias com o quilombo de Mestre José Fama, dono de um carrossel que fazia funcionar nas festas de São Sebastião do Tobias. Ali atuava também a Mestra Romana da Fazenda Borges de Ismael Brandão, e seu filho Lycurgo Brandão, com pastoril e danças. Houve ali o reisado dos mestres João Catota e João Camilo no fazenda Bom Sucesso, à época do administrador Né Vital, que ensaiaram também na fazenda Boa Vista dos Maia Rebelo Torres e na fazenda Beleza do Coronel Florentino de Holanda Cavalcante. Lembra também de João Batista, sanfoneiro, e Zé Soares do Tobias. Euclides Tenório de Holanda do Barro Branco, nascido em 1918, foi um dos poetas populares mais afamados a partir dos anos 30.
O pastoril na sede do povoado Chã-Preta foi introduzido em 1916 por Beatriz de Vasconcelos Rebelo, que o trouxe do Bananal, de seus avós maternos, para onde sempre ia aprender as jornadas. Anos depois, recebeu a parceria de sua prima Alzina Vasconcelos Rebêlo. Em 1937, surgiu o pastoril de Adília Brandão.
Havia outros folguedos populares como o guerreiro e chegança, sem falar no surgimento de muitos poetas populares que se apresentavam nas festas e nos finais de semana nos salões das casas-grandes e pequenas dos engenhos e fazendas.Também na década de 30, destacaram-se os sanfoneiros Eustáquio Tenório da Erva do Rato, Joaquim Mandu da Serra da Embira, João Batista e José Joaquim Ribeiro. Poetas Zé Didé da fazenda Beleza e Zé Alves da Vera Cruz, antiga Cruzes, assim como os cantadores Catuaba (de coco) e Espeto. A cultura popular foi ganhando espaço cada vez maior, sendo atualmente um dos marcos do município.
São Paulo./International Contest for the Pianistic Interpretation of the Composition of Osvaldo Lacerda Registration: 1st May to 10th November 2015. Pianists and piano students will have the opportunity to participate this year in one of the most important piano contests of the country. The “Concurso Internacional de Interpretação Pianística da Obra do Compositor Osvaldo Lacerda” was born with the goal to honer and promote the compositions of the composer from São Paulo. The competition will take place between 3rd and 6th December, at the Academia Paulista de Letras, in São Paulo, Brazil, and would distribute prices in a total of BRL 60 thousand, besides concerts in important cultural places of the country. The contests’ organizational commission will be lead by Eudóxia de Barros, international pianist, widow of Osvaldo Lacerda, besides Helena Marcondes Machado, Antonio Ribeiro and Carlos Augusto de Souza Lima. The contest is supported by the government of the state of São Paulo through the Secretary of Culture, Conservatório Dramático e Musical Dr. Carlos de Campos (de Tatuí), Academia Brasileira de Música and Yamaha Musical do Brasil. According to Eudóxia de Barros, the contest was idealized through the the purchase of the collection of Osvaldo Lacerda by the government of the state of São Paulo. She explains, “Therefore, I decided to give the resources obtained from this transaction as prices to the winners of the contest.” As one of the most active composers of the recent history of the country, Osvaldo Lacerda built a collection absolutely coherent, rich and brought. “It is a relevant collection and we believe that it deserves its preservation and diffusion to create the conditions for the artistic value of the composer, as well as his part of contribution to the culture of our country. All of these publications acquired by the composer reflect his intellect”, quotes the report on the works. The registration can be realized between 1st May and 10th November 2015, through the website www.concursoosvaldolacerda.com.br . The registration fee is BRL 50 (fifty Brazilian real), and is payable to the Centro de Música Brasileira, through the payment system PagSeguro, accessing the website of the contest. The contest will be realized in two phases – the eliminatory and final –, and a total of 20 minutes of presentation in each occasion (confrontational piece and of free choice). All of the presented pieces have to by composed by Osvaldo Lacerda. For the eliminary examination, the confrontational piece is the Estudo nº 4 and for the final examination, the confrontational piece is the Estudo nº 7.
Osvaldo Lacerda - Son of the lawyer Renato Marcondes de Lacerda and Julia Costa de Lacerda, Osvaldo Lacerda was born on 23rd March 1927, in São Paulo. He grew up in an environment which was familiar with music, in fact this benefited his future career. His mother was practitioner of the classical music and liked to play the piano. "My memory of music goes back to when I was two years old, when I’ve listend to my mother play Songs without Words by Mendelssohn, which I still listen to with great pleasure." (Lacerda, Osvaldo. Folheto do Festival de Música Hoje/97 - Osvaldo Lacerda 70 anos. Centro Cultural São Paulo/Secretaria Municipal de São Paulo). Counting with only the incentive of his mother, because his father wanted him to follow as lawyer, he started his piano studies when he was nine years old. In 1949, he started having piano classes with the pianist José Kliass. Three years later, he started composition classes with Camargo Guarnieri, which advised him to pursue a career as composer. He studied with Camargo Guarnieri from 1952 to 62, with him he learned the basic precepts of composition and instrumentation. He was an attentive and careful teacher, correcting, giving hints and helping him to find his way as composer. Guarnieri encouraged him to have classes with other composers, at last, to appreciate and understand composing out of different angles and styles. It was like this, that in 1963, Osvaldo Lacerda won a scholarship for the Guggenheim Foundation to study composition with Aaron Copland and Vittorio Giannini, in the USA. "Guarnieri is what you can call my real and complete great teacher. To him, I owe him great support in the área of editing and teaching." From that experience on, Lacerda conquered independence to structure his own compositions. Paralel to music, Lacerda also graduated with a law degree in 1961. From 1966 to 1970, Osvaldo Lacerda worked as consultant for the National Commission for Church Music, suggesting the introduction of Brazilian music in the catholic liturgy. As teacher, Lacerda highlighted the teaching of theory, giving classes since he was twenty years old. He passed away on 18th July 2011.
18.02.2015
São Paulo. Documentação sobre a sêca no Brasil como base de estudos culturais. A A.B.E. recebeu de seus membros em São Paulo uma coleção comentada de recortes de jornais e outras publicações referentes ao período de sêca que atingiu o Estado e outras regiões do Brasil em 2014. Esses materiais servem de base a considerações sobre as dimensões dessa estiagem e das transformações climáticas em geral para os estudos culturais.
Entre os artigos enviados citam-se „A morte do ambientalismo“ de Kate Galbraith (O Estado de S. Paulo, 28/09/2014), com considerações relativas a responsabilidades globais no aquecimento do planeta. Lea Siegel tematizou, em outro estudo, a negligência e a complacência no confronto com o problema da mudança do clima („Complacência e calamidade“, O Estado de S. Paulo, 19 de outubro de 2014): „São infindáveis os efeitos da complacência, como também não há fim para as crises globais. As secas continuam a atormentar o Brasil e o sul da Califórnia, mas o aquecimento global - e novamente nos EUA - deixou amplamente de ser um problema de natureza pública importante.“
Nas consequências do aquecimento global para o Brasil, considerou-se texto referente a Três Marias (MG) de Alexa Salomão („Reunião tenta equilibrar uso da água“ e „Com a seca no São Francisco, usina de Três Marias deve parar de gerar energia, O Estado de São Paulo, 12/12/2014).
As implicações da falta de água na mudança de hábitos e costumes surge tematizada em artigo de José de Souza Martins, sociólogo e Professor emérito da Faculdade de Filosofia da USP, autor de „Uma sociologia a vida cotidiana“ („Água deu, água leva“, O Estado de São Paulo, 19 e outubro de 2014).
Nas reuniões da A.B.E., salientou-se a mudança da imagem de cidades, regiões e países com a transformação do clima, criando-se contradições entre imagens e identidades baseadas em realidades ambientais do passado e situações presentes.
Lembrou-se que a cidade de São Paulo foi sempre decantada pela excelente qualidade de suas águas, de sua natureza e de seu clima, desde os primórdios coloniais, quando surgia como uma espécie de paraíso para os indígenas, até a cidade escolhida para ser sede de estudos superiores no século XX. Muitos de seus bairros - Bom Retiro, Campos Elíseos - lembram esse passado de altas qualidades climáticas e de vida da antiga „capital da garoa“. A perda dessas qualidades através do aterramento de várzeas, canalização de rios, destruição de revestimentos florestais, urbanização descontrolada de grandes áreas não poderia deixar de ter influência pelo menos sob o aspecto do micro-clima.
Não se pode também esquecer que todo o Estado de São Paulo foi alvo de uma extraordinária destruição de revestimento florestal no decorrer do século XX. O estudo de publicações de viajantes das décadas de 20 e 30 ainda tratam das florestas que então cobriam grande parte do interior do Estado e que surgiam como uma de suas principais características no Exterior. Lembrar dessa situação passada e que tanto marcou a história cultural e a imagem de São Paulo surge como oportuno e necessário, capaz talvez de trazer à consciência a urgência de um amplo e sistemático reflorestamento do Estado e de rearborizações ou reconstruções ambientais e paisagísticas de sua capital.
16.02.2015
Música brasileira em harpa paraguaia: Los Latinos Paraguayos. O Duo Alberto Benitez (canto) Dany Brisa (harpa), que se empenha em divulgar a música do Paraguai e de países vizinhos na Europa, destaca-se por incluir choros brasileiros em versão para harpa e violão nas suas apresentações. Ambos provenientes de família de músicos, obtiveram a sua formação no Conservatório Municipal de Assunção. Enquanto A. Benitez realizou estudos superiores em canto e matérias teóricas, D. Brisa seguiu a tradição harpista de seu pai. Passou a dedicar-se ao estudo do instrumento e à sua pesquisa, reconhecendo as suas potencialidades artísticas e o seu significado cultural. Após um período em que se perderam de vista, voltaram a tocar juntos, em festas particulares e em concertos, cultivando um repertório variado, em particular de música tradicional e popular paraguaia de guaranias, valsas e polcas.
Ampliando-o gradativamente através de estudos e de recriações, passaram a apresentar em elaborações virtuosisticas para harpa e violão música folclórica e popular da América do sul, tangos, chacareras, candombe, além de sambas e choros. Essa inclusão de música argentina e brasileira no mundo sonoro paraguaio foi facilitada por estadias de trabalho e concertos nos diferentes países.
No Brasil, A. Benitez viveu em Paranaguá e em Santa Helena, trabalhando no Rio de Janeiro no restaurante mexicano Guacamole, possuidor de sucursais em diferentes cidades, como Porto Alegre, Camburiu, Florianópolis e Joinville. Essa vivência refletiu-se no desenvolvimento de um repertório de altas qualidades técnico-artísticas na interpretação de choros e de música de salão brasileira, em particular de Zequinha de Abreu. Essa realização sonora de música de chorões e popular do passado brasileiro com harpa paraguaia é apresentada como parte integrante dos programas do Duo em concertos e em atividades em hotéis, restaurantes e bares de diversos países europeus, do Japão, China e dos Estados Unidos. Aqui, esse repertório sul-americano includente do Brasil causou considerável atenção em Las Vegas.
Procurando trazer à consciência geral as potencialidadesartísticas da harpa paraguaia e as suas possibilidades integrativas na aproximação interamericana, D. Brisa tem planos para, no futuro, criar um conservatório musical especializado no instrumento, onde o seu aprendizado e ensino se relacionem com a pesquisa organológica.
Em encontro com representantes da A.B.E., lembrou-se dos estudos já realizados relativamente às origens históricas e ao desenvolvimento da harpa nas missões paraguaias do passado por religiosos vindos da Europa Central. Essas pesquisas trouxeram à luz o significado relevante do instrumento na história de processos culturais do passado e os estreitos elos da prática musical assim desenvolvida com a esfera de língua alemã da Áustria, do Tirol e do Sul da Alemanha. Nesse sentido, procurar-se-á dar continuidade às relações com os músicos paraguaios no âmbito do ISMPS.
Colonia. Quarteto de Cordas Matosinhos na Filarmonia. Desperta grande atenção nos meios voltados aos estudos da música portuguesa concerto anunciado para o dia 8 de março do corrente na Kölner Philharmonie do Quarteto de Cordas Matosinhos, constituito por Vitor Vieira, Juan Carlos Maggiorani (violinos), Jorge Alves (Viola) e Marco Pereira (Violoncelo). Criado em 2008 e estabelecido em Matosinhos, Portugal, o conjunto surge como o mais destacado ensemble camerístico do mundo de língua portuguesa da atualidade pela sua qualidade e pelo fato de promover a apresentação de obras de compositores portugueses. O conjunto teve a sua formação no instituto internacional de música de câmara de Madrid, onde recebeu a orientação de Rainer Schmidt, do quarteto de Hagen. Entre os reconhecimentos que recebeu, destacam-se os da Fundação Calouste Gulbenkian e da Casa da Música do Porto. O programa prevê, entre outras, a apresentação de „Cenas nas Montanhas“ de José Viana da Mota (ca. 1895) e „Caged Symphonies“de Vasco Mendonça (2007).
Lisboa. 70 anos do desfile de uma unidade da Força Expedicionária Brasileira em Lisboa. Em iniciativa da Aditância do Exército da Embaixada do Brasil em Lisboa serão comemorados os 70 anos do desfile de uma unidade da Força Expedicionária Brasileira em Lisboa em1945, aquando do seu regresso ao Brasil. Na ocasião, essa unidade militar foi condecorada, bem como muitos militares brasileiros. Entre as várias atividades previstas, ocorrerá já a 26 do corrente na Embaixada em Lisboa uma sessão com a edição de uma monografia, exposição de fotos, passagem de filmes e audição de um fado específico: Nossos Irmãos, Natália dos Anjos. O evento serve para trazer à consciência que ontem, como hoje, os valores da Liberdade defendida por brasileiros na Itália estão ameaçados e a luta pela sua manutenção é constante. (Rui Ventura dos Santos Vargas)
24.01.2015
Rio de Janeiro. Música em Questão de Sérgio Bittencourt-Sampaio. Nesta sua nova publicação, o autor, segundo as suas palavras introdutórias, dirigiu a sua atenção privilegiadamente às condições históricas, sociais e de comportamento da criação e das atividades de compositores, procurando situar as obras no ambiente das respectivas épocas. A música não é tratada como fenômeno isolado, mas sim como manifestação integrada em múltiplos contextos. (Música em questão, Rio de Janeiro: Mauad X, 2014, 200 págs., bibliografia e índice, ISBN 978.85.7478698.8). O autor consultou várias bibliotecas: a Biblioteca Alberto Nepomuceno da Escola de Música da UFRJ, a Divisão de Música e Arquivo Sonoro, a Divisão de Obras Raras e a Divisão de Periódicos da Fundação Biblioteca Nacional, assim como o acervo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Uma atenção especial é dada a Liszt, tratado em três artigos: Franz Liszt em poucas palavras, O Masterclass segundo Liszt e As Rapsódias Húngaras, de Liszt: Renovação estética e Nacionalismo. Ainda no âmbito histórico-musical geral, o autor reflete sobre o tema „Quando os títulos e a autoria das partituras falseiam“. O estudo „Vozes Negras Femininas“, publicado em Música: Velhos Temas, Novas Leituras (Editora Mauad X, 2012) (Veja notícia) é agora republicado de forma ampliada e revista. O autor também dá continuidade nesta publicação dos seus estudos relativos a Joaquina Maria da Conceição (da) Lapa, designada como „ícone artístico da união luso-brasileira no período joanino“.
Dentre os estudos publicados, um destaque especial deve ser dado aquele dedicado ao tema „Carlos Gomes e Bittencourt Sampaio. Encontro, Amizade e Colaboração“, onde o autor oferece dados pormenorizados e em parte até hoje desconhecidos concernentes aos meses que o compositor passou em São Paulo. O estudo salienta de início o nem sempre suficientemente lembrado autor dos versos da popular modinha Quem Sabe?!... (1859) de A. Carlos Gomes: Francisco Leite Bittencourt Sampaio, natural de Laranjeiras (Sergipe), também autor do texto do Hino à Mocidade Acadêmica, e que foi amigo do compositor durante décadas. A estadia de Carlos Gomes em São Paulo é tratada pormenorizadamente, lembrando as atividades estudantís na vida musical, assim como o seu significado por representar uma época em que o compositor esteve estreitamente relacionado com a juventude acadêmica.
Esse estudo de Sérgio Bittencourt-Sampaio adquire sob diversos aspectos relevância para os estudos histórico-musicais do século XIX no Brasil, não apenas para os estudos paulistas, nos quais não pode mais deixar de ser considerado. Tratando relacionadamente o Nordeste e São Paulo na vida estudantil, o autor oferece importantes subsídios para estudos de encontros e interações culturais de jovens provenientes das diferentes províncias na formação de consciência da unidade do Império de intelectuais, artistas e homens de liderança. O significado do seu estudo ultrapassa, neste sentido, a esfera histórico-musical.
23.01.2015
Porto Alegre - RS. I Encontro Brasileiro de Música Popular na Universidade (MusPopUni) - 11 a 15 de maio de 2015. A comissão organizadora do „I Encontro Brasileiro de Música Popular na Universidade (MusPopUni)“ convida pesquisadores, professores, profissionais em geral e estudantes envolvidos com música popular para submeterem propostas de trabalhos para o evento. O processo de recebimento e avaliação dos trabalhos ficará a cargo do comitê científico. Prazo para envio dos trabalhos: até 28/02/2015.
Os organizadores do Encontro salientam como marco no desenvolvimento da presença a música popular na universidade a criação do Bacharelado em Música Popular da UNICAMP, em 1989. Em 1998, essa proposta foi seguida pela UNIRIO, que implantou o segundo Bacharelado em Música Popular do Brasil. Especialmente nos últimos anos, outras universidades federais e estaduais aderiram ao ensino superior de música popular: UECE (Curso Sequencial de Formação Específica, 2005); UFBA (Bacharelado Interdisciplinar em Música Popular, 2009); UFPB (Curso Superior em Música Popular, 2009); UFMG (Bacharelado em Música Popular, 2009); UFPel (Bacharelado em Música Popular, 2013). A UFRGS implantou seu Bacharelado em Música Popular em 2012 e, no ano em que a primeira turma de estudantes está prestes a concluir a graduação, decidiu sediar esse Encontro, convidando representantes desses cursos pioneiros a discutirem avanços e desafios do ensino da música popular na universidade. A coordenação geral do evento está a cargo de Luciana Prass, Raimundo Cruz e Luciano Zanatta. O comitê científico é composto pelos seguintes nomes: Marília Stein (UFRGS) – Presidente; Bernardo Oliveira (UFRJ); Carlos Sandroni (UFPE/UFPB); Clifford Korman (UFMG); Eloi Fritsch (UFRGS); Isabel Nogueira (UFRGS); Ivan Vilela (USP); Luciana Prass (UFRGS); Luciano Zanatta (UFRGS); Pedro Aragão (UNIRIO); Raimundo Cruz (UFRGS); Regina Machado (UNICAMP)e Rogério Constante (UFPel). Convidados são: Bernardo Oliveira (UFRJ); Carlos Sandroni (UFPE/UFPB); Clifford Korman (UFMG); Ivan Vilela (USP); Pedro Aragão (UNIRIO); Regina Machado (UNICAMP) e Rogério Constante (UFPel).
22.01.2015
Rio 450 anos - Bruxelas e Antuérpia. Abertura dos trabalhos euro-brasileiros na Bélgica. Em encontro da Curadoria da Fundação de Estudos de Processos Culturais, apresentou-se a primeira edição da Revista Brasil-Europa do corrente ano com relatos dos ciclos de estudos realizados na Bélgica para a abertura dos eventos da A.B.E. pelos 450 anos do Rio de Janeiro. Os trabalhos puderam ser realizados com o apoio da Biblioteca Real da Bélgica, assim como de sua seção de música. A Bélgica foi escolhida devido à importância da colonia brasileira em Antuérpia e Bruxelas à época da reconfiguração do Rio de Janeiro no início do século XX. Os estudos deram continuidade a aqueles realizados a partir da década de 70, em particular no Museu de Instrumentos Musicais do Conservatório Real de Bruxelas e no Museu da África Central de Tervuren. (https://revista.brasil-europa.eu/153/Bruxelas-Antuerpia-Rio.html)No centro das atenções esteve o papel desempenhado pelo diplomata e erudito Manuel de Oliveira Lima, vulto da história diplomática e principal personalidade das relações entre a Europa e o Brasil nos anos anteriores à Primeira Guerra Mundial. Particular objeto de discussões foram conferências por êle proferidas sobre o Rio de Janeiro no Congresso de Americanistas e no Congresso Internacional de Música em Viena, em 1908/9, assim como comunicação do Vice-Consul do Brasil em Antuérpia eo Congresso Internacional de Geografia do mesmo ano.(https://revista.brasil-europa.eu/153/Evolucionismo-e-Rio.html) Essa consideração especial do papel desempenhado pelo Rio metamorfoseado na representação brasileira do início do século veio de encontro às rememorações da Primeira Guerra na Bélgica levadas a efeito sobretudo em Bruxelas e em Antuérpia pelo centenário da eclosão da guerra em 2014. Esses textos foram analisados a partir das concepções e visões histórico-culturais de Oliveira Lima expostas nas conferências por êle proferidas na Sorbonne, em 1910, e que trataram da formação histórica da nacionalidade brasileira. (https://revista.brasil-europa.eu/153/Nacionalidade-Brasileira.html) Na recepção oferecida para o lançamento da edição eletrônica, apresentaram-se os projetos Rio 450 anos da A.B.E., que serão realizados em diversos países e continentes no decorrer de 2015 e cujo financiamento encontra-se agora assegurado.
09.01.2015
Schloss Homburg, Nümbrecht. Abertura dos trabalhos da A.B.E. de 2015. Realizaram-se, no período de festas de entrada de ano e de Reis, encontros em clausura de círculos internos da A.B.E. para a discussão e preparação dos trabalhos que serão conduzidos em 2015.
A fundação de estudos de processos culturais, mantenedora da academia e dos institutos, está em condições de possibilitar os ciclos de estudos planejados em instituições de países e regiões até hoje não visitados, e que terão o seu início já em meados do corrente mês. A preparação dessas viagens de pesquisas, observações e contatos, que darão continuidade a empreendimentos anteriores de contextos transoceânicos, exige intensos e difíceis estudos devido à precariedade de fontes e aconselhamento de especialistas e de personalidades com experiência e conhecimentos nas várias regiões.
Neste sentido, foi significativa a presença do Dr. K.D., que, não desejando que o seu nome seja divulgado, depois de muitos anos de atividades em vários países retorna definitivamente à Alemanha, retomando contatos. Mantém moradias na Espanha e na Itália, aqui particularmente em Florença, onde passou alguns anos, estando integrado em rêdes do comércio e da cultura da Toscana. A sua trajetória de vida incluiu a direção de exportações e intercâmbios com Benin, Nigeria, Niger e outros países africanos a partir da França, difícil período de vida na Bulgária, doutoramento na Suécia, docência em escolas superiores de Costa Rica e atividades no Oriente. Com o Brasil, os seus conhecimentos e contatos relacionam-se sobretudo com o Maranhão. Prepara, para o presente ano, viagem à Argentina.
Unindo empreendendorismo, atividades econômicas com interesses culturais, artísticos, educativos e em particular de arquitetura nos diferentes contextos, o relato de suas experiências diversificadas muito contribuiu às discussões preparatórias dos trabalhos que terão início.
Situações de instituições e desenvolvimentos nos diferentes países em que atuou e viveu foram comentadas e serviram de ponto de partida para a consideração de lacunas, prioridades e as possibilidades de desenvolvimentos de projetos.
Os encontros foram nublados pela atmosfera geral que domina na Alemanha e na França relativamente ao Islão. A discussão das grandes demonstrações que ocorrem em várias cidades da Alemanha sobre uma islamização do Ocidente chamou a si grande parte das atenções, sendo conduzida sob diferentes aspectos, em particular também das impressões de um alemão que, retornando de longa vida no Exterior, encontra regiões do seu pais totalmente modificadas sob o aspecto social e cultural. Os ataques de islamistas a periódico em Paris com os seus assassínios, a questão crítica das relações entre muçulmanos e judeus na França trouxe à pauta das preocupações o dever de defesa da liberdade de expressão e imprensa. Tendo a A.B.E. realizado nos últimos meses trabalhos relativos à reintensificação religiosa na Turquia (Veja notícias), a questão dos receios pela „islamização do Ocidente“ pôde ser considerada a partir das observações realizadas in loco em cidades turcas do Mar Negro e em Istambul.
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